Na reta final da reforma ministerial, a presidente Dilma Rousseff anunciou ontem seis novos integrantes do primeiro escalão, elevando para dez as mudanças no último ano do governo. Como a bancada do PMDB da Câmara decidiu retirar suas indicações, em confronto com o governo, Dilma optou por recusar os nomes indicados anteriormente pelos deputados e nomear alguns técnicos, outros indicados de políticos do PMDB do Senado, e reforçou também a posição do ex-ministro Fernando Pimentel, candidato do PT ao governo de Minas Gerais.

O arranjo divulgado ontem foi um aceno de pacificação da presidente à ala pemedebista liderada pelo vice-presidente Michel Temer, que defende a reedição da aliança nacional com o PT e o apoio à sua reeleição. Nessa ótica, o atendimento às reivindicações da sigla se concretiza nas nomeações do secretário de Política Agrícola, Neri Geller, para o Ministério da Agricultura, nome aprovado pelo mineiro Antonio Andrade, que deixa o cargo, mas principalmente pelo senador Blairo Maggi (PR-MT), e do agrônomo Vinícius Lages, apadrinhado do senador Renan Calheiros, para o Ministério do Turismo. Lages é gerente da área internacional do Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa (Sebrae), e assume a vaga do deputado Gastão Vieira (PMDB-MA), ligado ao senador José Sarney (PMDB-AP).

A nomeação de Lages implicou a eliminação de um apadrinhado do ex-ministro Fernando Pimentel, pré-candidato do PT ao governo de Minas Gerais, e amigo pessoal de Dilma. Pimentel defendia o nome do presidente do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) e ex-prefeito de Ouro Preto Angelo Oswaldo Santos. Embora filiado ao PMDB, Santos teve o nome vetado pela cúpula da sigla. O presidente em exercício do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), admitiu que o nome dele não agradou à bancada mineira.

Na Agricultura, Dilma confirmou Neri Geller. Geller se aproximou da cúpula pemedebista na gestão do deputado Antônio Andrade na pasta, e se filiou ao partido no ano passado. Mas Geller, que é produtor rural em Lucas do Rio Verde (MT), também teve a benção do senador Blairo Maggi (PR-MT). Geller transita com desenvoltura na bancada do PMDB na Câmara, mas antes do confronto com o governo a indicação do PMDB da Câmara era o secretário de Defesa Agropecuária, Rodrigo Figueiredo.

Apesar de emplacar os sucessores na Agricultura e no Turismo, mantendo as pastas em sua cota, o PMDB não obteve sucesso em sua meta inicial, que era ampliar sua fatia de poder na Esplanada com um sexto ministério.

O senador Eduardo Lopes assume a Secretaria Especial de Pesca e Aquicultura no lugar do senador Marcelo Crivella, que vai concorrer ao governo do Rio de Janeiro, abrindo mais um palanque para Dilma no Estado. Lopes é suplente de Crivella, também da mesma Igreja, o que mantém a pasta na cota do PRB na Esplanada, mostrando que o partido segue na coalizão de apoio a Dilma e à sua reeleição.

A nomeação de Lopes também mantém Dilma próxima ao segmento evangélico, já que ele é ligado à Igreja Universal do Reino de Deus, assim como Crivella, que é bispo licenciado.

De olho no tempo de televisão da campanha, Dilma também manteve o Ministério das Cidades na cota do PP. Para o lugar do deputado Aguinaldo Ribeiro (PP), pré-candidato ao governo da Paraíba, a presidente nomeou o vice-presidente de governo da Caixa Econômica Federal, Gilberto Occhi, indicado pelo senador Ciro Nogueira (PI), presidente nacional do PP. A manutenção da pasta com o PP levou a sigla a deixar o "bloco de independentes".

Dilma ainda confirmou o ex-presidente da Petrobras Biocombustíveis Miguel Rossetto no Ministério do Desenvolvimento Agrário, no lugar do deputado Pepe Vargas (PT-RS). Rossetto é ligado ao PT gaúcho, mas teve o aval, principalmente, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Por fim, Dilma acolheu um pleito de Pimentel (que já tem o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), ao nomear para a pasta da Ciência e Tecnologia o reitor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Clélio Campolina. Ele substitui Marco Antônio Raupp, que havia sido indicado pelo chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, mas Dilma não estava satisfeita com seu desempenho.

Campolina foi colega de faculdade de Pimentel e seu mandato à frente da reitoria venceria no dia 18 de março. Uma fonte palaciana observa, entretanto, que o mineiro terá uma missão à frente da pasta: turbinar as ações de capacitação tecnológica e inovação das empresas e de atração de investimentos.

A presidente ainda deverá efetivar os interinos Mauro Borges, no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (na cota de Minas e de Fernando Pimentel), e Antônio Henrique Silveira na Secretaria de Portos. Os novos ministros tomam posse na segunda-feira, às 10 horas.

O conflito com o PMDB forçou a presidente a só concluir a reforma 40 dias depois de iniciá-la com a troca de quatro ministros.

Matéria publicada por Valor Econômico - SP

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