[CRMV-CE] Qual o trabalho desenvolvido pela Gerência de Emergências (GEREM) da Agência de Defesa Agropecuária do Ceará?
O trabalho baseia-se no atendimento a suspeitas de enfermidades de notificação obrigatória, bem como o acompanhamento dessas investigações, conforme preconizado pela Instrução Normativa n° 50/2013 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). As atividades envolvem vigilância epidemiológica, coleta de material biológico, fluxo e logística para viabilidade dos atendimentos no campo.
[CRMV-CE] Hoje, como se encontra o fluxo de notificações e suspeitas de doença nos rebanhos do Estado?
Existem 3 (três) formas de notificação: pelo proprietário (produtor); terceiros (médicos veterinários, alunos de universidade, agentes comunitários de saúde, agentes de endemia, dentre outros) e pelo próprio Serviço Veterinário Oficial (SVO), (vigilância ativa realizada pelos fiscais veterinários da Adagri no exercício das atividades a campo).
Essa notificação chega até a gerência de emergências (GEREM) de várias formas: via telefone através de denúncia; via e-mail pelos servidores da Adagri, entre Fiscais e Agentes Agropecuários relatando a notificação; através da Ouvidoria, entre outros. A partir disso, a operacionalização do atendimento é desencadeada com o encaminhamento de equipe para atendimento e acompanhamento das investigações até sua finalização. Com isso, o processo de investigação acontecerá até o serviço oficial ter certeza de que a suspeita de doença em questão não trará prejuízos ao rebanho do Estado e também para as pessoas, quando se tratarem de antropozoonoses, como por exemplo, raiva, brucelose, tuberculose e mormo.
[CRMV-CE] Existe alguma situação mais alarmante?
As doenças de notificação compulsória de caráter zoonótico (transmitida aos seres humanos pelos animais) citadas acima, precisam ter cuidados especiais, tendo em vista o acometimento em potencial aos seres humanos. No caso da raiva, a letalidade é praticamente 100%. Então, qualquer suspeita de doenças de notificação obrigatória, deve ser notificada à ADAGRI, através dos 08 Núcleos Regionais e 40 Núcleos Locais distribuídos no estado do Ceará.
[CRMV-CE] Quais os trabalhos vêm sendo desenvolvidos pela Adagri no combate dessas doenças?
A diretoria de sanidade animal da Adagri (DISAN) é responsável, dentre outras atribuições, pelo gerenciamento dos programas sanitários decorrentes dessas enfermidades de notificação obrigatória e cada uma delas possui particularidades e coordenações estaduais específicas.
A Adagri tem por objetivo "Proteger a saúde dos animais e vegetais e propiciar a qualidade sanitária dos produtos industriais derivados, promovendo a sustentabilidade desses setores e a segurança alimentar humana."
No que diz respeito às competências da GEREM, são preconizados pelo MAPA os programas estaduais de sanidade dos equídeos; erradicação e prevenção da Febre Aftosa; sanidade avícola; controle e erradicação da brucelose e tuberculose, e de controle da Raiva dos Herbívoros. Cada um desses programas tem atividades de vigilância e estratégias de ações que devem ser executadas de acordo com o previsto em legislação federal e estadual, além de manuais técnicos.
[CRMV-CE] Em relação à Raiva, qual a situação da doença no Ceará?
A Raiva é endêmica no Brasil. Assumi a coordenação do Programa Estadual de Raiva dos Herbívoros em junho de 2015. Depois disso foram muitas felicidades. Este programa é reflexo do excelente trabalho desta coordenação e principalmente dos meus colegas Fiscais e Agentes Estaduais Agropecuários da Adagri. Sou muito grata por este trabalho, pois se hoje somos reconhecidos por outras agências de defesa do Brasil e pelo MAPA, foi devido à construção de um trabalho em equipe.
É importante ressaltarmos que as atividades de vigilância vêm aumentando ao longo desse período e que o quadro vem se modificando para melhor no Estado por diversos motivos, sendo o principal deles a capacitação dos servidores da Adagri. Com isso, ocorreu um estímulo imediato e nosso trabalho reiniciou a todo vapor.
Em relação ao número de coleta de amostras de sistema nervoso central (SNC), tivemos aumentos significativos a partir de 2015, sendo em azul (n° de exames) e em vermelho (n° de amostras positivas).
Estimulamos a vigilância epidemiológica no estado e começamos a ampliar nossas atividades: coletas de amostras suspeitas; vacinação do rebanho; captura e controle de espécies de morcegos da espécie Desmodus rotundus (hematófago), principal responsável pela transmissão do vírus da raiva ao rebanho (observação: somente os morcegos que contém o vírus da raiva, transmitem a doença); e o que eu particularmente mais gosto de fazer, são as atividades de educação sanitária (entrevistas de rádio, palestras em comunidades, contato com o público), sendo uma experiência fenomenal. Saber que você faz parte da vida das pessoas, que você pode levar um pouco dos seus conhecimentos para pessoas de diferentes idades, níveis de escolaridade e classe econômica, é uma experiência que dou muito valor, é gratificante.
As atividades educativas são umas das formas mais potentes de estimular as notificações, principalmente a notificação dos produtores, que são nossos principais colaboradores nas atividades de campo, verdadeiros parceiros.
[CRMV-CE] Quais ações são realizadas para o controle dela?
A equipe de fiscais e agentes da Adagri realiza coleta de amostra de SNC de animais herbívoros (bovinos, equinos, ovinos, caprinos) que são suspeitos da doença e encaminhamos ao laboratório para análise diagnóstica; acompanhamento da vacinação antirrábica do rebanho, único método preventivo para esta doença e captura da espécie Desmodus rotundus, uma das formas de controle mais efetivas, que através da aplicação de ‘’pasta vampiricida’’ conseguimos realizar o controle populacional desta espécie.
Ressalto a importância de equipe tecnicamente qualificada para essas ações e que todas as atividades realizadas no programa estadual de controle da raiva dos herbívoros estão em conforme da legislação em defesa sanitária vigente.
[CRMV-CE] Qual o maior desafio encontrado no combate da Raiva?
Na minha opinião, não existe um desafio maior, tudo é um grande desafio.
Acredito que o governo poderia desenvolver uma política mais forte no combate a esta doença no rebanho e que além das campanhas de vacinação de cães e gatos, que tem sua importância, poderiam existir outras campanhas que poderiam ser desenvolvidas e voltadas para o campo. A raiva pode estar em todo lugar e acometer diversos tipos de espécies animais, como cães, gatos, saguis, raposas, morcegos, animais de rebanho (bovinos, caprinos, equinos…) e o homem.
Exatamente pela falta de campanhas voltadas ao público rural, é que esta Coordenação investe muito nos trabalhos educativos, direcionados para este público-alvo e também para profissionais como: médicos veterinários autônomos, agentes de saúde e de endemias, alunos de escolas técnicas.
Com o programa mais consolidado, temos mais um desafio este ano de levar informações do serviço da defesa aos nossos colegas médicos veterinários autônomos e que os mesmos colaborem nas notificações de doenças de notificação obrigatória.
Este projeto envolve levar aos colegas do campo a importância do médico veterinário no serviço veterinário oficial, qual o seu papel na sociedade e como parte também do fluxo de notificações.
[CRMV-CE] Qual Importância do NUVEP dentro das ações da Adagri?
O Núcleo de Vigilância Epidemiológica é exatamente o setor que compila e consolida todas as informações epidemiológicas, de todas as investigações de doenças dos programas sanitários da Adagri.
As informações consolidadas são validadas por esta gerência e são repassadas ao MAPA, o que nos mantêm em dia com os dados da Organização Mundial de Saúde Animal – OIE.